PT: A moda, no seu sentido mais lato e compreensivo, é algo sério. É exigente, sabe o que quer de nós. É persistente, pede o que
quer sem desistir. É obstinada, quer o que quer, sem pedir desculpa por isso. É
uma coisa a sério. A moda tem um porteiro à entrada. A sua função é verificar
se cada pessoa tem os requisitos certos para poder fazer parte do fenómeno.
Rapidamente passou de boca em boca o que era preciso para
o porteiro deixar entrar. Depois, na era da comunicação, os requisitos
começaram a ser publicitados na televisão. Agora, não há quem não saiba o que é
preciso.Mas, afinal, o que é preciso? Os requisitos são específicos mas
suficientemente flexíveis para nos fazerem crer que temos sempre uma hipótese
de entrar. Deve ter-se pele macia, suave e lisa - não importa como a
conseguiste. Deve ser-se magro, clavículas bem expostas, coxas que não se tocam
- indiferente se vomitas para isso. Pelo menos 1,7 metros, claro. Cabelo
impecável, brilhante e suave - os produtos estão no supermercado, é só comprar!
Bem, mas isto não é novidade para nenhum de nós. Sabemos bem o que é preciso
para entrar. A verdadeira questão é: o que é que fica à porta, quando decidimos
entrar? O que o porteiro diz, na verdade, não é só o que temos de ser, mas o
que não podemos levar para dentro deste mundo. Muitas das vezes, não podemos
levar nada do que é realmente nosso. Até que ponto devemos aceitar que alguém
nos diga como devemos ser antes de nós próprios sentirmos que queremos ser de
outra maneira?
É devastador ouvir-se “és feia” ou “és burra”, mas é
igualmente devastador ouvir “eras muito mais gira se mudasses completamente o
teu visual”. Mais subtil, verdade, mas igualmente devastador. Depois de passar
a porta que o porteiro nos abre, a lição mais importante é ouvir aquilo que nos
dizem que devemos ser, por oposição a escolhermos como queremos ser ou a
aceitarmo-nos como somos.
Numa sociedade globalizada e extra-comunicativa não há
como acreditar que qualquer rapariga de treze anos vai ficar imune às balas
mágicas do ideal de beleza e acreditar que não precisa de ser assim. Seria
utópico. Mas talvez ainda seja possível ensiná-las a dizer “não ”ao porteiro, a
dizer-lhe “se tu não gostas de mim assim, azar o teu” e fazê-las acreditar que
essa é a atitude que abre todas as portas.
EN: Fashion,
in its broader more comprehensive sense, is a serious matter. It’s demanding,
knowing what it wants from us. It’s persistent, asking what it wants without
backing down. It’s obstinate, it wants what it wants without being sorry for
it. It’s a serious matter. Fashion has a doorman at the entrance. Its job is to
check if every person meets the requirements to be a part of the phenomenon.
Quickly
the word spread about what was needed for the doorman to open the door. Then,
in the communication era, the requirements started appearing on television.
Now, there isn’t a soul that doesn’t know what it takes.But, after all, what
does it take? The requirements are specific but flexible enough to make you
believe you have a shot at getting it. You must have soft, smooth and flawless
- doesn’t really matter how you get it. You must be thin, clavicles well
esposed, thighs not touching - kind of indiferent if you are throwing up to
achieve that goal. Be at least 5,6 feet, of course. Immacule, perfect hair -
the products are in the supermarket, just buy them! Well, this isn’t really
news to anyone. Everyone knows what it takes to get in. The real question is:
what do we leave at the door when we choose to get in?What the doorman says,
actually, is not only what we must be, but what we can’t carry into this world.
Often, we can not take anything that’s really ours. To what limit should we
accept that someone tells us what we should look like even before we feel like
being different than we are?
It’s
devastating to hear “you are ugly” or “you are dumm”, but it’s as much
devastating to hear “you would so much cutter if you changed the way you look
completly!”. More subtle, no doubt, but equally devastating and heart breaking.
After we pass the door that doorman opens, the most important lesson is to hear
what they say we must look like, in opposition to choosing what we want to look
like or accepting ourselves for what we are.
In a
globalized over-communicative society, there is no way any thirteen-year-old
girl is going to be imune to the ideal of beauty and believe they don’t
absolutely need to look like that. But maybe it is still possible to teach them
to say “no” to the doorman, to tell him “if you don’t like me like this, it’s
your loss” and make them believe that that attitude can open any door they
want.
Texto / Text; Tradução / Translation: Leonor Capela
Sem comentários:
Enviar um comentário