PT: “Modificação corporal (ou alteração corporal) é a
alteração deliberada do corpo humano por qualquer razão não médica, como por exemplo
estética, melhoria sexual, rito de passagem, motivo religioso, para demonstrar
afiliação a um grupo, criar arte corporal, como forma de chocar ou de auto
expressão”.
Esta definição de modificação corporal encontra-se no
site da Wikipédia que todos conhecemos. Ainda que não seja uma definição
recolhida junto de um perito ou num livro, é suficiente para compreendermos de
maneira sucinta o que é a modificação corporal.
Escolhi esta definição, também, por enumerar
sinteticamente as várias razões que podem levar uma pessoa a modificar o seu
corpo sem necessitar de o fazer. Daí a ressalva feita pelo Sr Wikipédia: “por
qualquer razão não médica”, o que mostra que as pessoas que modificam o seu
corpo destas formas não precisam de o fazer.
A modificação corporal inclui tatuagens no corpo ou nos
olhos, colocação de piercings nas orelhas ou noutras partes do corpo, colocação
de implantes, modelação da orelha (cortando partes da orelha), escarificação
(que consiste na remoção de pele para induzir a criação de colóide) entre
muitas outros.
A modificação corporal não é - como muitos mais
conservadores podem já estar a pensar - um produto da sociedade retorcida e sem
limites da actualidade. Não. Pelo contrário, é algo que vem das mais remotas
raízes de todas as sociedades e que está directamente ligada à moda e ao ideal
de beleza. Logicamente, o que é que alguém pode fazer se o nosso corpo não se
molda ao ideal de beleza que é exigido pela sociedade? Nada mais que mudar o
seu corpo, modificá-lo rumo à aceitação, rumo ao que é pedido. Esta necessidade
de aceitação não é privilégio da mulher, é necessidade humana, sendo o Homem
aquele animal social como ouvimos Aristóteles dizer desde sempre.
Uma das mais antigas formas de modificação corporal é a
compressão dos pés, praticada na China desde o ano 937. No século XIX,
estima-se que 100% das mulheres de uma classe social elevada praticassem essa
forma de modificação corporal. Não se sabe ao certo a origem dessa prática, mas
as mulheres que tinham pés pequenos eram de uma classe elevada e que não
precisavam de trabalhar, podendo dedicar todo o seu tempo aos seus maridos.
Para compreenderem bem a dimensão deste processo, os pés das mulheres era
atados desde os 3 anos aproximadamente. Pés pequenos era, sem dúvida, uma exigência
da sociedade chinesa. Uma exigência que devia ser, a todo o custo, cumprida.
Não pensem os ocidentais que estão safos de escrutínio:
os corpetes nasceram de uma exigência semelhante. Diz-se que surgiram em França
por volta de 1550 e que eram feitos de ossos de baleia ou aço para modelar a
forma feminina, suportar e elevar o busto e melhorar a postura. Se os chineses
só queriam mudar os pés, os francesas foram, definitivamente mais além.
Com os avanços da medicina e a emancipação da mulher, tanto na sociedade ocidental como na oriental, a compressão dos pés e o uso de corpetes cairam em desuso pelos motivos óbvios. Mas esses mesmos avanços na medicina e nas tecnologias permitiram outras formas de mudar o corpo para acompanhar as novas exigiências de uma sociedade sempre em mudança. Não preciso de elaborar sobre os implantes mamários, o botox, os face lifts e etc. Por outro lado, acho que a modelação das orelhas, a escarificação e as tatuagens na córnea merecem um espaço neste post. Já se sabe que o conceito de beleza vai sempre mudando ao longo do tempo e que a sociedade actual já está “a ficar sem ideias” sobre o que pedir às pessoas para fazerem mas será que estas práticas são, realmente, uma forma de inserção? Que vêm da necessidade de se sentir parte de algo? De sentir que estamos a atingir um ideal de beleza que circula na sociedade? Não creio. Creio, opostamente, que estas práticas surgem da nova e mais recente tendência que a sociedade impôs: a tendência da diferenciação. Estas práticas são, sem dúvida alguma, formas de expressão pessoal, variantes da moda, elementos de criação de beleza individual, assim como o uso de um vestido, de um cinto, de uns sapatos, de um fraque mas procuram o oposto da inserção. Procuram diferenciar o elemento mais básico que existe: o corpo. Querem impedir que a massificação se imponha mudando o ponto inicial de qualquer estilo: o corpo. Acredito que a mensagem que este tipo de modificação corporal transmite é: mesmo que as pessoas se sintam compelidas a expressar-se dentro dos limites da massificação, dentro dos limites da globalização, mesmo que o façam, nunca serão iguais aos outros pois já são diferentes no seu elemento mais pessoal - o corpo.
Com os avanços da medicina e a emancipação da mulher, tanto na sociedade ocidental como na oriental, a compressão dos pés e o uso de corpetes cairam em desuso pelos motivos óbvios. Mas esses mesmos avanços na medicina e nas tecnologias permitiram outras formas de mudar o corpo para acompanhar as novas exigiências de uma sociedade sempre em mudança. Não preciso de elaborar sobre os implantes mamários, o botox, os face lifts e etc. Por outro lado, acho que a modelação das orelhas, a escarificação e as tatuagens na córnea merecem um espaço neste post. Já se sabe que o conceito de beleza vai sempre mudando ao longo do tempo e que a sociedade actual já está “a ficar sem ideias” sobre o que pedir às pessoas para fazerem mas será que estas práticas são, realmente, uma forma de inserção? Que vêm da necessidade de se sentir parte de algo? De sentir que estamos a atingir um ideal de beleza que circula na sociedade? Não creio. Creio, opostamente, que estas práticas surgem da nova e mais recente tendência que a sociedade impôs: a tendência da diferenciação. Estas práticas são, sem dúvida alguma, formas de expressão pessoal, variantes da moda, elementos de criação de beleza individual, assim como o uso de um vestido, de um cinto, de uns sapatos, de um fraque mas procuram o oposto da inserção. Procuram diferenciar o elemento mais básico que existe: o corpo. Querem impedir que a massificação se imponha mudando o ponto inicial de qualquer estilo: o corpo. Acredito que a mensagem que este tipo de modificação corporal transmite é: mesmo que as pessoas se sintam compelidas a expressar-se dentro dos limites da massificação, dentro dos limites da globalização, mesmo que o façam, nunca serão iguais aos outros pois já são diferentes no seu elemento mais pessoal - o corpo.
EN: “Body modification (or body alteration) is the deliberate
altering of the human body for any non-medical reason, such as aesthetics,
sexual enhancement, a rite of passage, religious reasons, to display group
membership or affiliation, to create body art, shock value, or self
expression”.
This definition of body modification belongs to Wikipedia, the site
we are all familiar to. Even though it isn’t a definition from a book or by an
expert, is it enough to make us understand in a brief manner what is body
modification.
I chose this definition also because it recites the various reasons
that lead a person to alter their body without needing to do so. Thence the
reservation made by Mr Wikipedia: “for any non-medical reason”, which shows
that people who this body alterations do not need to do it.
Body modification includes body or eyeball
tattooing, body and ear piercing, implants insertion, ear shaping (which
includes ear cropping), scarification (cutting or removal of dermis with the
intent to encourage intentional keloiding), amongst many others.
Body modification is not - as those more conservative may
be thinking - a product of our twisted and limitless society. No. On the
contrary, it is something that we inherited from older societies and that is
directly linked to fashion and to an ideal of beauty. Logically, what is a person
to do if their body doesn’t fit what is considered beautiful and what’s
demanded by the society? What else but changing your body? Modifying it towards
acceptance, towards what’s asked of them. This need of acceptance isn’t a
woman’s priveledge, but a human need, since the human being is a social animal,
as Aristoteles said.
One of the oldest forms of body modification is foot
binding, praticed in China since 937. In the XIXth century, it’s estimated that
100% of the upper class women had their feet bound. The origin of this exercise
is unknown, but the women that had their feet bound belonged to an upper class
and didn’t have to work, thus being able to devote all their time to their
husbands. So that you come to understand the full extent of this process, the
women’s feet were usually bound since they were 3 years old, approximately.
Small feet was, definately, a demand from the chinese society. A demand that
had to be met, whatever the cost.
Those from the west side of the world shouldn’t jump to
judgement, as corsets were born from a similar demand. It’s said that they arose in France around 1550 and were
made of whalebone or steel to mold the feminine shape, support and lift the
bust and improve posture. If the chinese only wanted to change the feet, the
french definitely took the next step.
With the advances in medicine and the woman’s
emancipation, both in western and eastern societies, foot binding and corsetry
were forgotten for the obvious reasons. Although, those advances in medicine
and technologies allowed other ways to change our bodies in order to keep up to
the new demands of a society always in change. I do not need to elaborate about
brest implants, botox, face lifts, etc. On the other hand, I believe ear
shaping, scarification and eyeball tattoos deserve a place in this post. We all
know the beauty ideal is mutant and that present society is “running out of
ideas” to ask stuff of us mas are these practices , really, a way to belong? Is
their origin de need to feel part of something? To feel we are reaching an
ideal of beauty supported by the society? I don’t believe so. Actually, I
believe that these practices come from the newest, most recent trend imposed by
society: the trend of differentiation. These practices are, no doubt, ways to self
express, subtrends to fashion, elements to create individual beauty, just like
a dress, a belt, a pair of shoes, a tail-coat but they seek the opposite to
belonging. They want to discern the most basic element there is: the body. They want to prevent massification
by changing the basis of any style: the body. I believe the message sent by
these types of body modification is: even if people feel compelled to self
express within the limits of massification, within the limits of globalization,
even if they actually do so, they will never be alike the others for they are
already different in their more personal element - the body.
Tenha apenas um aparte referente ao tópico deste post. Falam da colocação de piercings, escarificações, tatuagens da córnea como forma de diferenciação e uma prática que promove um conceito (ou vários) de beleza únicos, mas não podem deixar de parte o facto de muitas destas práticas terem as suas origens em rituais de inserção e afirmação em sociedades, mais concretamente em tribos africanas, sul e norte americanas (onde se mantém) e que ainda têm alguma expressão cultural em zonas que tenham uma forte presença do hinduísmo. Estas práticas serviam, muitas vezes, para afirmar a posição de um elemento da tribo como guerreiro e conforme o tipo de marcas definia também a sua posição hierárquica, não sendo encarado como uma forma de embelezar, mas sim como um elemento de identificação.
ResponderEliminarE aquilo que afirmam como sendo uma prática de diferenciação, pode tornar-se redundante, porque em vários casos é usado como uma forma de pertença a um determinado tipo de grupo (não deixando de ser um conceito específico de beleza). Assim, acho mais correcto encarar como um conceito de diferenciação que tem como objectivo a pertença. Não querendo dar aso a estereótipos, mas em termos sociológicos é difícil ignorar o facto de que pessoas com características comuns tendem a agrupar-se e para as pessoas que frequentam, por exemplo, vários ambientes nocturnos é fácil perceber que determinados tipos de locais têm determinados tipos de públicos e que em alguns deles é extremamente difícil a aceitação de elementos que não estejam de acordo com as especificações daquele grupo. Nenhum homem é uma ilha e tendo em conta que estamos a falar de conceitos muito específicos de beleza (pelo menos como é entendido na sociedade ocidental) e que o homem é um ser social, ninguém é completamente original e diferente e basta ter em conta a evolução em termos de moda para percebermos que mal surge um novo conceito, aparecem imediatamente vários elementos dispostos a explorá-lo. Ou não fosse a mini-saia, elemento impensável há menos de um século atrás, a peça de vestuário que mantém o crescimento económico mais estável desde a sua criação.
E ainda dentro do assunto, aconselho uma pesquisa sobre acionismo vienense, para perceberem as dimensões a que este tipo de práticas pode chegar.
Video interessantíssimo e texto muito bem fundamentado com questões bastante pertinentes.
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