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PT: Muitas vezes, no dia-a-dia, não nos lembramos que a nossa imagem, a nossa postura, aquilo que dizemos e fazemos falam por nós e criam um aura que nos precede e representa. Muitas vezes, ao fim do dia, já na cama, nem nos lembramos ao certo da roupa que usámos e nem pensamos por que razão gostamos mais de uma peça do que de outra.
Para uns, aquilo que vestem é mais importante que para
outros, o momento de escolher a roupa pode ser mais prazeroso ou menos
prazeroso, a roupa pode ser algo que nos faz sentir bem, ou algo que nos faz
odiar-nos. O que usamos pode ser um elo às pessoas que nos rodeiam, pode ser
aprovado pelo nossos pais, tema de conversa com amigos, objecto de elogio. O
que usamos pode ser, também, a nossa forma de criar explosão e destruição à
nossa volta. Pequenas micro explosões que acontecem quando passamos: o quebrar das
expectativas, do expectável que havia para nós.
Como é que a moda, afinal de contas, nos liga ao mundo?
Quando é que decidimos cortar esse cortão umbilical e quando é que decidimos
voltar a criá-lo? Ou recriá-lo?
As peças de roupa e acessórios que escolhemos acabam por
ter o efeito de cartão de visita muitas vezes, mostrando aos outros, antes que
possamos falar, aquilo que consideramos bonito, aquilo que achamos que nos
representa. Como em muitos outros domínios da vida em sociedade, por vezes, esta
escolha que cada um faz vai (ou não) de encontro a um protótipo do que é
esperado para cada um. Os estereótipos existem também ao nível daquilo que
usamos e esses estereótipos podem abafar a nossa moda. Esta nossa moda é aquilo
que pode ser considerado como a recriação do cordão umbilical com o mundo
através do que usamos - é a procura da criação de uma identificação pessoal
através da recombinação e moldagem de factores já existentes na sociedade. Por
vezes, esta recombinação e moldagem gera construções que ficam fora daquilo que
estava previsto para certa pessoa no seu contexto. Isto pode levar a uma
quebra, a um afastamento da pessoa como forma de expressão pessoal, dependendo
do nível de relação que existe entre a maneira como se expressa visualmente e
aquilo que ela realmente é. Se a aquilo que usa é, efectivamente, o espelho
daquilo que é, a rejeição disso por parte da sociedade pode ser encarado como
uma rejeição do seu ser. Nessa linha, a moda pode ser considerada um vector
forte na sociedade, um vector de julgamento, de afastamento, de quebra, de
ruína, de explosão. Um vector que, na sociedade, cria estereótipos e os
destrói, constroi expectativas para as deitar abaixo, leva a criar e a condenar
o que foi criado. Mas, ainda que a força de algo tenha potencial para que seja
destrutivo, isso não pode fazer com que nos esqueçamos que cada vez que
escolhemos um acessório, uma t-shirt, umas calças porque achamos que elas são
exactamente aquilo que pensamos de nós estamos a recriar e fortalecer o nosso laço
com o mundo, estamos a construir o nosso lugar, a encontrar a pessoa que
queremos que os outros vejam. E este é o poder da moda: o poder de fazer com
que, realmente, existamos.
EN: In our daily lives, it happens frequently that we
don't remember that the way we look, our posture, the things we say and do
speak for us and create an aura that preceeds and represents us. Many times, at night, already in
bed, we can't even remember accurately what we wore and don't dwell on the fact
that we chose a piece of clothing over another one.
What they wear is more important for some people than for
others. The moment you pick your outfit can be enjoyable or not, clothes can be
something that make you feel good, or something that make you hate yourself.
The things you put on can be a link to those around you, can be approved by
your parents, something to talk to your friends about, the object of a
compliment. It can also be a way to create destruction around you. Small micro explosions that go off
at every step you take: the breaking of expectations, of what was planned for
you.
How does fashion, after all, connect us to the world?
When do we decide to cut that umbilical cord and when do we decide to make it
whole again? Or to recreate it?
Pieces of clothing and accessories that we choose end up
being the most powerfull instrument of the first impression, showing others,
before we get a chance to speak, what we consider beautiful and what we believe
is a representation of ourselves. Like in many other areas of life in a
society, sometimes, this choice meets (or not) the prototype that is planned
for us. Stereotypes exist also for what we should wear and they can smother our
own fashion. This "own fashion" can be considered the recreation of
the umbilical cord with the world through what we wear - we are trying to
create a personal identification by re-combining and shaping elements that
already existed in our environement. Sometimes, this process of re-combining
and shaping generates productions that stand outside the grid of what is
destined to each person. And that can provoque a breach, an estrangement as a
way to express yourself, depending on the proximity between the way you express
yourself visually and what you really are. If what you wear is, actually, the
reflection of what you are, then its rejection by the society can be faced as a
rejection towards you as a person. Accordingly, fashion can be considered a
strong element in the society, an element of judgement, of estrangement, of
breach, of ruine and explosion. An element that, amonst us, shapes stereotypes
and destroys them, builds up expectations to let them down, that inspires to
create and to condemn what was created. But, even if being that strong means
that something has the potencial to be destructive, that can not make us forget
that each time we pick an accessory, a t-shirt, a pair of pants because we
believe they tell exactly what we think of ourselves we are reacreating and
reinforcing our bond with the world, we are making a place for ourselves,
finding the person we want others to see. This is the power of fashion: the
power to make us, actually, exist.
Texto / Text: Leonor Capela
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