terça-feira, 27 de março de 2012

Moda - exclusão e inclusão / Fashion - exclusion and inclusion

Foto: DR/Copyright
PT: Muitas vezes, no dia-a-dia, não nos lembramos que a nossa imagem, a nossa postura, aquilo que dizemos e fazemos falam por nós e criam um aura que nos precede e representa. Muitas vezes, ao fim do dia, já na cama, nem nos lembramos ao certo da roupa que usámos e nem pensamos por que razão gostamos mais de uma peça do que de outra.

Para uns, aquilo que vestem é mais importante que para outros, o momento de escolher a roupa pode ser mais prazeroso ou menos prazeroso, a roupa pode ser algo que nos faz sentir bem, ou algo que nos faz odiar-nos. O que usamos pode ser um elo às pessoas que nos rodeiam, pode ser aprovado pelo nossos pais, tema de conversa com amigos, objecto de elogio. O que usamos pode ser, também, a nossa forma de criar explosão e destruição à nossa volta. Pequenas micro explosões que acontecem quando passamos: o quebrar das expectativas, do expectável que havia para nós.

Como é que a moda, afinal de contas, nos liga ao mundo? Quando é que decidimos cortar esse cortão umbilical e quando é que decidimos voltar a criá-lo? Ou recriá-lo?

As peças de roupa e acessórios que escolhemos acabam por ter o efeito de cartão de visita muitas vezes, mostrando aos outros, antes que possamos falar, aquilo que consideramos bonito, aquilo que achamos que nos representa. Como em muitos outros domínios da vida em sociedade, por vezes, esta escolha que cada um faz vai (ou não) de encontro a um protótipo do que é esperado para cada um. Os estereótipos existem também ao nível daquilo que usamos e esses estereótipos podem abafar a nossa moda. Esta nossa moda é aquilo que pode ser considerado como a recriação do cordão umbilical com o mundo através do que usamos - é a procura da criação de uma identificação pessoal através da recombinação e moldagem de factores já existentes na sociedade. Por vezes, esta recombinação e moldagem gera construções que ficam fora daquilo que estava previsto para certa pessoa no seu contexto. Isto pode levar a uma quebra, a um afastamento da pessoa como forma de expressão pessoal, dependendo do nível de relação que existe entre a maneira como se expressa visualmente e aquilo que ela realmente é. Se a aquilo que usa é, efectivamente, o espelho daquilo que é, a rejeição disso por parte da sociedade pode ser encarado como uma rejeição do seu ser. Nessa linha, a moda pode ser considerada um vector forte na sociedade, um vector de julgamento, de afastamento, de quebra, de ruína, de explosão. Um vector que, na sociedade, cria estereótipos e os destrói, constroi expectativas para as deitar abaixo, leva a criar e a condenar o que foi criado. Mas, ainda que a força de algo tenha potencial para que seja destrutivo, isso não pode fazer com que nos esqueçamos que cada vez que escolhemos um acessório, uma t-shirt, umas calças porque achamos que elas são exactamente aquilo que pensamos de nós estamos a recriar e fortalecer o nosso laço com o mundo, estamos a construir o nosso lugar, a encontrar a pessoa que queremos que os outros vejam. E este é o poder da moda: o poder de fazer com que, realmente, existamos.

EN: In our daily lives, it happens frequently that we don't remember that the way we look, our posture, the things we say and do speak for us and create an aura that preceeds and represents us. Many times, at night, already in bed, we can't even remember accurately what we wore and don't dwell on the fact that we chose a piece of clothing over another one.

What they wear is more important for some people than for others. The moment you pick your outfit can be enjoyable or not, clothes can be something that make you feel good, or something that make you hate yourself. The things you put on can be a link to those around you, can be approved by your parents, something to talk to your friends about, the object of a compliment. It can also be a way to create destruction around you. Small micro explosions that go off at every step you take: the breaking of expectations, of what was planned for you.

How does fashion, after all, connect us to the world? When do we decide to cut that umbilical cord and when do we decide to make it whole again? Or to recreate it? 

Pieces of clothing and accessories that we choose end up being the most powerfull instrument of the first impression, showing others, before we get a chance to speak, what we consider beautiful and what we believe is a representation of ourselves. Like in many other areas of life in a society, sometimes, this choice meets (or not) the prototype that is planned for us. Stereotypes exist also for what we should wear and they can smother our own fashion. This "own fashion" can be considered the recreation of the umbilical cord with the world through what we wear - we are trying to create a personal identification by re-combining and shaping elements that already existed in our environement. Sometimes, this process of re-combining and shaping generates productions that stand outside the grid of what is destined to each person. And that can provoque a breach, an estrangement as a way to express yourself, depending on the proximity between the way you express yourself visually and what you really are. If what you wear is, actually, the reflection of what you are, then its rejection by the society can be faced as a rejection towards you as a person. Accordingly, fashion can be considered a strong element in the society, an element of judgement, of estrangement, of breach, of ruine and explosion. An element that, amonst us, shapes stereotypes and destroys them, builds up expectations to let them down, that inspires to create and to condemn what was created. But, even if being that strong means that something has the potencial to be destructive, that can not make us forget that each time we pick an accessory, a t-shirt, a pair of pants because we believe they tell exactly what we think of ourselves we are reacreating and reinforcing our bond with the world, we are making a place for ourselves, finding the person we want others to see. This is the power of fashion: the power to make us, actually, exist.

Texto / Text: Leonor Capela

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